01 abril, 2011

Como Manoel, difícil é fotografar o silêncio...

E chegou o Outono e com ele Abril.
As folhas nem estão tão secas, estranho! Os pássaros assobiam alto feito cigarras, até anunciam a chuva, mas ela nem de bica cai. Hoje me lembrei tanto de Manoel, aquele de Barros, o jeito das palavras, palavras que hora parecem sonhos articulados na cabeça da gente feito filme. Não filme de cinema, filme de memória sabe? Aqueles que passam na cabeça da gente feito sensações e cheiros. 
Estranho, hoje o dia entardeceu mais cedo! Ouvi o pio da sabiá, senti o pingo d'água dando nó, nó na garganta. Quem sabe amanhã o dia não anoitece mais tarde!

Por que ele consegue fazer isso comigo...

"Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus
seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul
E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvores
porque fez amizade com muitas borboletas.

Manoel de Barros 

Hoje eu fico com ele :

















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