14 abril, 2011

Tudo é Divino Maravilhoso!

Quando os Doces Bárbaros cantam que " É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte" o que mais me soa como um conselho é que realmente precisamos estar atentos e fortes, com os olhos arregalados, olhar pra dentro e pra fora, os olhos são as armas mais poderosas ao meu ver... olhar é poder garimpar, só seus olhos dizem ou respondem à uma ação o corpo vem depois...confeço que são poucos que olham nas profundezas ou que conseguem chegar nas simplicidades alheias, mas existem! 

Poder olhar algo ou além de uma coisa é as vezes assinar a paisagem, falo do sentido natural mas que carrega uma personalidade única, nem um olhar ou olhos são iguais. Saber olhar e como saber se tornar singular, penso que apreciar um horizonte é observar os contratempos e as pausas do dia.

Mas tenho a leve impressão que as vezes só consigo enxergar de olhos bem fechados, tão bem fechados que consigo viajar e só assim olhar pra dentro. Um dia li que "a vida se desvenda o tempo todo, em plenitude, os véus e a cegueira estão no olhar, assim como a lucidez e a beleza", achei tão bonito que comecei capturar tudo feito fotografia, tudo pra conseguir abrir os olhos, feito o Sol se abre pro dia como a Lua pra noite.

Sei que meu olhar consegue me desenhar, só ele faz isso tão bem, penso que as vezes são as imagens ou os quadros que me escolhem, sem querer to olhando fixamente para aquela árvore ali parada, e com breves focos consigo olhar cada verde diferente que tem em cada folha, daí eu digo sem ter muita coisa em mente que tudo ainda é divino e maravilhoso. 

Sei saber olhar com vício, com aspereza e breve doçura ao mesmo tempo, por horas meu olhar salvou e me fez chorar, sem saber esconder já tive olhar envenenado, olhar gentil, olhar de gente...
Sinto como se estivesse sempre gravando o meu filme predileto, a edição fica por parte da memória, mas o que eu gosto mesmo é de filmar cinematograficamente a minha vida.

 Olho Direito - olhar de front.

 

O Seu Olhar por Ceumar

Composição : Paulo Tatit / Arnaldo Antunes

 


O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu

Beijo grande à todos que pousam por aqui

01 abril, 2011

Como Manoel, difícil é fotografar o silêncio...

E chegou o Outono e com ele Abril.
As folhas nem estão tão secas, estranho! Os pássaros assobiam alto feito cigarras, até anunciam a chuva, mas ela nem de bica cai. Hoje me lembrei tanto de Manoel, aquele de Barros, o jeito das palavras, palavras que hora parecem sonhos articulados na cabeça da gente feito filme. Não filme de cinema, filme de memória sabe? Aqueles que passam na cabeça da gente feito sensações e cheiros. 
Estranho, hoje o dia entardeceu mais cedo! Ouvi o pio da sabiá, senti o pingo d'água dando nó, nó na garganta. Quem sabe amanhã o dia não anoitece mais tarde!

Por que ele consegue fazer isso comigo...

"Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus
seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul
E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvores
porque fez amizade com muitas borboletas.

Manoel de Barros 

Hoje eu fico com ele :

















20 janeiro, 2011

A que será que se destina

Cá estou eu experimentando de novo, deve ser (uma pausa para contas) a quarta, quiçá a quinta vez que tento abrir ou reabrir este espaço. Espaço deveras letrado!
Então lá vamos eu. Um Blog reaberto.
Em nome dos poderes a mim concedido,eu dou por aberto este espaço, aos vinte dias do mês de janeiro do ano de 2011.


Como sempre as palavras dos outros parecem ser mais interessantes dos que as próprias que esbravejo ao abrir esta maldita boca. Porém é assim, ao ler se tornam tão minhas quanto de quem as escreveu, este deve ser um sintoma do embaralho da mente, só pode! 
Lispector é tão Clarice, mas eu me sinto tão Lispector. Me sinto  no abismo do mundo, quando ao ler que  A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Isso é grande, pequeno sou eu.

Mas é assim que ao propor escrever, referendar, brincar, desenhar as palavras eu abro este imenso relicário. Não tão particular, porque todos podem entrar, mas íntimo ao ponto de escrever o que se passa em Alice...


Feliz Ano Novo!
Um calendário cheio de dias para rabiscar!